Irene Black | A Melhor Professora Que Eu Não Tive


Irene - A Melhor Professora Que Eu Não Tive

Conheci Irene lá pelo ano de 1997. Ela fez a produção de uma ação para a agência em que eu atuava como diretor de arte. Já na reunião me chamou a atenção aquela baixinha de fala firme e segura.
Passados alguns anos reencontro-a pelos corredores da Universidade e ela pergunta “estou dando aulas aqui, o que você está fazendo aqui?”. “Também estou dando aulas aqui” respondi seguido por um beijo e abraço caloroso.
Acho que desde então nossas vidas se cruzaram de tal forma que um complexo nó foi criado.
Sei que a partir daquele instante começamos a nos ver com mais frequência. Aos poucos pudemos encontrar afinidades, fossem elas artes, cultura, cinema, literatura, família, apreço pelo fato das aulas ministradas e inúmeras conversas sobre os alunos. Ela costumava me apresentar dizendo “nós somos diretores de arte, eu do vídeo e ele de impresso”.
Nem sei direito como, mas sua presença foi ficando mais assídua em minhas conversas, minha rotina e, consequentemente, em minha vida. O fato, descoberto depois, de sua origem judaica foi motivo para um convite para um jantar em minha casa, e desde então ela tornou-se convidada certa e presente nos meus eventos particulares. Em um destes, lembro que ela conversava com meu pai sobre música clássica (seu avô foi um renomado violinista) e minutos depois discutia moda com um amigo meu, algumas décadas mais jovem.
Possuía um conhecimento que lhe permitia travar longas conversas fosse sobre Matisse ou graffiti, cinema francês ou mpb, ciclo lunar ou internet. Embora possuísse uma “religiosidade” própria conhecia costumes do candomblé ao judaísmo, passando belas indumentárias típicas escocesas.
Ainda sobre os costumes judaicos, mais de uma vez preparei pratos típicos que ela saboreava e dizia que lhe lembrava os sabores de sua infância.
Sua passagem por aqui pode ser descrita pela palavra intensidade. Para ela não existia meio termo, tudo era profundo. Mergulhava em seus compromissos, profissionais ou pessoais, de cabeça. Nada de ficar “em cima do muro”, para ela o que tinha que ser, ela garantia que fosse.
Era meu desabafo dos problemas do trabalho, minha ouvinte sempre atenta, conselheira pessoal e sempre motivadora, amiga sempre disponível. Além de minha orientadora particular de viagens, vibrava antes mesmo de eu embarcar. Lembro-me de seus conselhos sobre a paternidade – embora nem pensasse em ser pai.
Companheira ao extremo, tenho viva as lembranças de nossos programas que eram tão ecléticos como visitas ao MAM, compras no WalMart, casas de cultura em Botafogo, Bienal de Livros e incontáveis formaturas, onde ela e eu éramos homenageados. Durante esses passeios a piada padrão era “Irene, estou andando muito rápido?”, e ela respondia “Você não, mas eu sim!”. Ela quase sempre com – para mim inesquecíveis – adoráveis tênis All Star coloridos.
Sua forma de falar carinhosa e dura, direta e maternal, honesta e calorosa lhe rendeu a criação de uma comunidade no Orkut com o nome de “Eu levei bronca da Irene Black”. Sobre isso posso dizer que, já no evento citado logo no início, fui um dos primeiros a levar tal repreensão.
Por conhecer sua enorme bagagem cultural, compartilhar sua presença, sua alegria, força e vontade de viver, seu carinho, sua austeridade, seu comprometimento, tenho certeza que ela foi a melhor professora que não tive.
Infelizmente ela partiu. Levou um pouco de cada um de nós, mas deixou muito de si. Fico com minhas memórias, com minhas – enormes – saudades, com a pena de não ter tido tempo de apresentar-lhe meu filho e com sua eterna inspiração.
Imagino uma estação de rádio: ela está sempre a tocar, basta que alguém sintonize. Sua presença, inspiração, motivação e lições ficarão para sempre, basta entrar em sintonia com sua inesquecível presença.
Obrigado Irene.
Saudades eternas.
Daniel

Comentários

Carol T. Moré disse…
que lindo seu texto. Infelizmente as pessoas se vão, mas o mais importante é que elas sempre nos deixam aprendizados e saudades.
um bjo.
Andre Brasil disse…
Muito bom o texto.
emocionou.
Tatiana Gonzalez disse…
Lindo texto, bela mensagem...emocionante!!!
Caio Costa disse…
Adorei o texto... Ele partiu e deixou saudades...
Dindo disse…
Querido Daniel

Escrevo com os olhos maejados e a alma encharcada de emoção.
Como eu voltei a estudar já meio coroa, tive o privilégio de ser aluno da Irene e do Daniel também.

Por minha sorte, o encontro com vocês dois foi além das salas de aula.

Quero conhecer seu filho e te dar um abraço especial pela vida dele e por mais esta emoção.

Arnaldo Adnet
nanosantanna disse…
Acabo de lembrar coisas tão gostosas, momentos impares vividos com uma pessoa que amo até hoje. Consegui sorrir e chorar com esse texto e uma saudade enorme acabou de bater no peito. Depois que me formei sempre que dava eu passava na facul pra caçar a Irene e dar um beijo. Vou terminar dizendo que em minha vida ela fez diferença.
IRENE AONDE VOCÊ ESTIVER SAIBA QUE EU TE AMO E SEMPRE FALO DE VOCÊ PARA MEUS AMIGOS.
Elaine Lopes disse…
Que lindo!!! Realmente uma pessoa especial...
Unknown disse…
Muito emocionante!!!
Irene é um marco na vida de todos nós!!!
Balaio de Três disse…
Lindo texto Daniel! Irene é uma daquelas pessoas que marcam nossa vida, quem conehce não esquece!

Bjoo, Mona