Tenho muitos amigos - e até parentes - que são publicitários.
E tenho me espantando com a popularidade dessa profissão entre os mais jovens.
Para ajudar quem está pensando em se dedicar a essa profissão cheia de glamour, resolvi fazer um pequeno guia. Espero que seja útil.
Como se inserir no mercado de trabalho
Fácil: minta no currículo. Ninguém vai checar mesmo.
Incluir cursos no exterior é sempre bom. Especialmente em cidades modernas e cool como Berlim ou Copenhagen. Ponha lá: “assistente de produção no Stor Oksekod, na Dinamarca”. Ninguém precisa saber que é uma churrascaria.
Outra coisa que sempre funciona bem em currículos é incluir premiações. Publicitários adoram premiações, tanto que criaram milhares para distribuir entre eles mesmos.
Inclua algo como: “4º colocado do prêmio Golden Taroba na categoria ‘melhor folheto’ no 5º Publicity Awards de Itaperuna”. Sempre ajuda.
Pronto, consegui um estágio na agência. E agora?
O passo seguinte é achar um nome pra você.
Lembre-se que, da porta da agência pra dentro, você é um artista. E todo artista precisa de um nome adequado.
Nomes de publicitários se dividem em três categorias básicas.
A primeira são os nomes italianizados. Fica bonito e moderno. João vira “Gianni”, Luís vira “Luigi”, Lucicleide vira “Luce”.
A segunda categoria é a de nomes monossilábicos terminados em acento circunflexo ou “u”, como “Clô”, “Fô”, “Rê”, “Mô”, “Stê”, “Pê”, “Mu” ou “Du”.
A terceira são apelidos bem brasileiros e divertidos, como “Joca”, “Tutuca”, “Drica” ou “Zoza”.
Mas lembre-se: independentemente do nome que você escolher, o sobrenome precisa ser grande e insólito. Nada de “Silva” ou “Moreira”.
O nome ideal, portanto, seria algo como Du Fregolini, Clô Bierrenbach ou Joca Thompson.
Observe que, em todos eles, o primeiro nome tem uma pegada bem despojada, mas o sobrenome dá o tom grave e solene que o publicitário precisa e merece.
Vamos supor que seu nome seja Luis Castro. A partir de hoje, você é Luigi Castellari. Parabéns, Luigi!
Como me enturmar?
Mesmo que você ganhe 545 reais, a melhor idéia é investir uns 4 mil e comprar um abadá no bloco da agência no carnaval de Salvador. É lá que os melhores contatos são feitos.
O vocabulário
Não estranhe se, na primeira reunião, alguém te disser: “Luigi, vamos dar o start. Você tem o briefing do job? Então faça um c-call com o team do Du Fregolini, que fez o filme do papel higiênico Ralorrabo, e pergunte se o recall do cliente foi satisfatório.”
Fique calmo. Ninguém está entendendo nada mesmo. Você se acostuma.
A obsessão pelo making of
Todo publicitário adora um making of. Esse fenômeno é conhecido por “efeito Narciso”.
Lembre-se: para cada segundo de comercial filmado, a agência costuma rodar 30 minutos de making of.
O último comercial do desodorante Suvacol, dirigido por Du Fregolini, mereceu um DVD triplo com dezenas de entrevistas, análises e depoimentos. “Fregolini é um gênio”, disse Joca Thompson. “Considero este o Encouraçado Potemkin dos filmes de desodorante”.
Características de comportamento
Publicitários têm duas características básicas: são extremamente gregários e indecisos.
Isso explica o gigantesco número de reuniões de cinco horas com 15 pessoas em que não se decide nada.
A gênese de idéias e da criação publicitária
Em reuniões na agência, toda boa idéia, mesmo que venha do estagiário, é reivindicada pelo seu superior imediato, que é então reivindicada pelo superior deste, e assim por diante, até chegar ao dono da agência.
E toda idéia que dá errado, mesmo que venha do dono da agência, é colocada na conta de seu subalterno imediato, que passa para o seu subalterno, e assim por diante, até chegar ao estagiário, que é então demitido.
A injeção sazonal de modernidade
Fenômeno que costuma ocorrer nos meses de agosto e janeiro, quando o dono da agência ou o chefe de criação voltam de Nova York ou Paris, onde viram o Blue Man Group ou o La Fura Dels Baus pela 37ª vez, trazendo as últimas novidades em matéria de comportamento: “Fui ao Brooklyn e vi muita gente usando cueca por cima da calça, é a última tendência!”
O fenômeno é seguido, alguns meses depois, por uma enxurrada de comerciais estrelados por pessoas usando cueca por cima da calça, editoriais de moda com modelos usando cueca por cima da calça, e publicitários andando pela agência com cueca por cima da calça.
Pronto. Agora é com você. Boa sorte, Luigi!
Escrito por André Barcinski
E tenho me espantando com a popularidade dessa profissão entre os mais jovens.
Para ajudar quem está pensando em se dedicar a essa profissão cheia de glamour, resolvi fazer um pequeno guia. Espero que seja útil.
Como se inserir no mercado de trabalho
Fácil: minta no currículo. Ninguém vai checar mesmo.
Incluir cursos no exterior é sempre bom. Especialmente em cidades modernas e cool como Berlim ou Copenhagen. Ponha lá: “assistente de produção no Stor Oksekod, na Dinamarca”. Ninguém precisa saber que é uma churrascaria.
Outra coisa que sempre funciona bem em currículos é incluir premiações. Publicitários adoram premiações, tanto que criaram milhares para distribuir entre eles mesmos.
Inclua algo como: “4º colocado do prêmio Golden Taroba na categoria ‘melhor folheto’ no 5º Publicity Awards de Itaperuna”. Sempre ajuda.
Pronto, consegui um estágio na agência. E agora?
O passo seguinte é achar um nome pra você.
Lembre-se que, da porta da agência pra dentro, você é um artista. E todo artista precisa de um nome adequado.
Nomes de publicitários se dividem em três categorias básicas.
A primeira são os nomes italianizados. Fica bonito e moderno. João vira “Gianni”, Luís vira “Luigi”, Lucicleide vira “Luce”.
A segunda categoria é a de nomes monossilábicos terminados em acento circunflexo ou “u”, como “Clô”, “Fô”, “Rê”, “Mô”, “Stê”, “Pê”, “Mu” ou “Du”.
A terceira são apelidos bem brasileiros e divertidos, como “Joca”, “Tutuca”, “Drica” ou “Zoza”.
Mas lembre-se: independentemente do nome que você escolher, o sobrenome precisa ser grande e insólito. Nada de “Silva” ou “Moreira”.
O nome ideal, portanto, seria algo como Du Fregolini, Clô Bierrenbach ou Joca Thompson.
Observe que, em todos eles, o primeiro nome tem uma pegada bem despojada, mas o sobrenome dá o tom grave e solene que o publicitário precisa e merece.
Vamos supor que seu nome seja Luis Castro. A partir de hoje, você é Luigi Castellari. Parabéns, Luigi!
Como me enturmar?
Mesmo que você ganhe 545 reais, a melhor idéia é investir uns 4 mil e comprar um abadá no bloco da agência no carnaval de Salvador. É lá que os melhores contatos são feitos.
O vocabulário
Não estranhe se, na primeira reunião, alguém te disser: “Luigi, vamos dar o start. Você tem o briefing do job? Então faça um c-call com o team do Du Fregolini, que fez o filme do papel higiênico Ralorrabo, e pergunte se o recall do cliente foi satisfatório.”
Fique calmo. Ninguém está entendendo nada mesmo. Você se acostuma.
A obsessão pelo making of
Todo publicitário adora um making of. Esse fenômeno é conhecido por “efeito Narciso”.
Lembre-se: para cada segundo de comercial filmado, a agência costuma rodar 30 minutos de making of.
O último comercial do desodorante Suvacol, dirigido por Du Fregolini, mereceu um DVD triplo com dezenas de entrevistas, análises e depoimentos. “Fregolini é um gênio”, disse Joca Thompson. “Considero este o Encouraçado Potemkin dos filmes de desodorante”.
Características de comportamento
Publicitários têm duas características básicas: são extremamente gregários e indecisos.
Isso explica o gigantesco número de reuniões de cinco horas com 15 pessoas em que não se decide nada.
A gênese de idéias e da criação publicitária
Em reuniões na agência, toda boa idéia, mesmo que venha do estagiário, é reivindicada pelo seu superior imediato, que é então reivindicada pelo superior deste, e assim por diante, até chegar ao dono da agência.
E toda idéia que dá errado, mesmo que venha do dono da agência, é colocada na conta de seu subalterno imediato, que passa para o seu subalterno, e assim por diante, até chegar ao estagiário, que é então demitido.
A injeção sazonal de modernidade
Fenômeno que costuma ocorrer nos meses de agosto e janeiro, quando o dono da agência ou o chefe de criação voltam de Nova York ou Paris, onde viram o Blue Man Group ou o La Fura Dels Baus pela 37ª vez, trazendo as últimas novidades em matéria de comportamento: “Fui ao Brooklyn e vi muita gente usando cueca por cima da calça, é a última tendência!”
O fenômeno é seguido, alguns meses depois, por uma enxurrada de comerciais estrelados por pessoas usando cueca por cima da calça, editoriais de moda com modelos usando cueca por cima da calça, e publicitários andando pela agência com cueca por cima da calça.
Pronto. Agora é com você. Boa sorte, Luigi!
Escrito por André Barcinski
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